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Bairro carioca então esquecido, Paquetá renasce para um turismo cultural

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Para fugir do trânsito e da insegurança do Rio, a ilha é uma opção charmosa para o fim de semana

HAROLDO CASTRO (TEXTO E FOTOS) | DO RIO DE JANEIRO
31/01/2017 - 12h57 - Atualizado 31/01/2017 17h24

Qual é o bairro do Rio de Janeiro onde moradores dormem em paz, passeiam de madrugada sem medo pelas ruas e desfrutam a tão sonhada tranquilidade? E mais, onde não existe nenhum congestionamento de trânsito porque, simplesmente, não há automóveis?

Esse pequeno paraíso carioca, a 21ª Região Administrativa, parece ter sido esquecido no fundo de um baú. Mais precisamente, no fundo da Baía de Guanabara. É a Ilha de Paquetá.

Fui a Paquetá pela primeira vez quando era menino, na década de 1960. Lembro-me vagamente dos cavalos que puxavam charretes. Em 1974, quando vivia uma paixão por pintura primitiva e arte naïf, visitei a ilha para procurar Lia Mittarakis, uma pintora que escolhera Paquetá como moradia e fonte de inspiração. Peguei a barca de volta com um belo quadro debaixo do braço, hoje emprestado a minha filha Mayra.

Se na década de 1970 Paquetá possuía um charme particular, com visitantes da classe média carioca passando o fim de semana no bairro tão acolhedor, nas décadas seguintes a ilha foi lentamente entrando em declínio. O aumento contínuo da poluição das águas da baía e a favelização dos morros de Paquetá contribuíram fortemente para a decadência da então chamada Pérola da Guanabara. Prédios históricos foram abandonados, belas residências deixaram de ter a manutenção necessária, hotéis foram fechados e os imóveis em Paquetá começaram a perder valor no mercado. Foram longas décadas de esquecimento, principalmente pelos prefeitos do Rio.

Em 2011, foi lançada a iniciativa Paquetá Sustentável. Era necessário buscar novas soluções para a poluição, para o sistema de abastecimento de água e de energia elétrica e para uma coleta de lixo mais eficiente. Mas, quando tudo vem do continente ou da Ilha do Governador, os desafios são ainda maiores.

Nos últimos anos, existe um consenso que a ilha está vivendo um novo ciclo e que a fase “fundo do poço” passou. Mesmo se a coleta de lixo ainda não é seletiva – e seria tão fácil fazê-la –, muitos dos moradores acham que a Comlurb está fazendo um bom trabalho e que a ilha está mais limpa do que antes.

Em 2016, o então prefeito Eduardo Paes, pressionado pelo Ministério Público, proibiu a circulação das charretes puxadas a cavalos em Paquetá. A decisão foi polêmica. De um lado, os saudosistas diziam que a ilha perderia um de seus maiores atrativos, o passeio de charrete. Do outro, ambientalistas e ativistas da causa animal respondiam que os cavalos eram maltratados, viviam em péssimas condições e que suas fezes e urina contaminavam as ruas de saibro da cidade.

A decisão foi irrevogável, e em maio do ano passado os 31 cavalos que puxavam 15 charretes foram levados para o Centro de Proteção Animal da Fazenda Modelo, em Guaratiba. Para transportar turistas e namorados, 17 carrinhos elétricos – daqueles usados em campos de golfe – surgiram na ilha, sob protestos de alguns. Mas um dos charreteiros, hoje motorista de carrinho de golfe, confessa que a “charrete elétrica” dá menos trabalho do que cuidar bem de um animal.

Por não hospedar motocicletas e automóveis particulares – exceção feita a ambulância, carro de bombeiro, viatura policial, caminhão de lixo e caminhonetes de mudanças –, o meio de transporte mais usado em Paquetá é a bicicleta e seus derivados como o triciclo e o quadriciclo. De fato, a marca registrada da ilha são as bikes e a todo minuto há alguém pedalando por algumas das 40 ruas de saibro da cidade.

Para os que estão levando sacos de compras ou bagagens, os que precisam se locomover quando está chovendo ou os idosos que não querem pedalar, a solução é o ecotáxi, um triciclo – tipo o riquixá ou o tuk-tuk oriental – movido por uma bateria. Basta dar o primeiro impulso com as pernas e a bateria, colocada embaixo do assento dos clientes, faz o resto.

Tadeu Costa é um ecotaxista da cooperativa Paquetaxi, que possui 30 membros. Ele cobra R$ 5 por pessoa, para qualquer corrida na ilha. Para fazer um passeio pelos principais atrativos durante uma hora ele cobra R$ 50. Seu veículo custou cerca de R$ 7 mil, incluindo a bateria, o módulo e o motor na roda dianteira. “Foi uma invenção paquetaense, dois mecânicos conseguiram bolar o sistema”, diz Tadeu.

A reputação da qualidade das águas das praias de Paquetá também está em alta. As praias Moreninha e José Bonifácio são das mais limpas dentro da Baía da Guanabara e foram consideradas como próprias para banho em todas as medições realizadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Segundo o oceanógrafo David Zee, existe um canal profundo na Baía que liga o oceano a Paquetá e água limpa é trazida até a ilha nas duas marés do dia.

Mesmo que as águas das praias de Paquetá estejam longe do mar turquesa do Caribe e de Seicheles, paquetaenses de todas as idades e turistas de fins de semana não hesitam em tomar um belo banho. A coloração levemente achocolatada não assusta ninguém. “Com este calor de verão, vou à praia e entro na água quase todos os dias”, afirma Neusa Matos, dona do café Casa de Noca e que mora em Paquetá desde criança.

Mas, pasmem-se os incrédulos, Paquetá possui um grande ponto em comum com um dos paraísos terrestres, Seicheles. São os matacões. Esses enormes blocos arredondados de granito afloram à superfície nessa parte da Baía de Guanabara e, ao redor de Paquetá, há centenas dessas pedras – uma das marcas emblemáticas de Seicheles.

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Em frente a quase todas as 12 praias de Paquetá existem matacões gigantescos. Na Praia do Lameirão, na extremidade norte da ilha, em frente aos remanescentes das matas da Área de Preservação Ambiental de Guapimirim, dezenas de matacões tornaram-se o local de repouso das aves marítimas que habitam o local. Quase sempre presente, a garça-branca-grande (Ardea alba) possui pernas e dedos pretos, mas seu bico e sua íris são amarelos.

Uma parada obrigatória em qualquer tour de charrete elétrica ou de ecotáxi é a Maria Gorda, na Praia dos Tamoios. O baobá de Paquetá, com mais de um século de idade – teria sido plantado em 1907 pelo médico mineiro José Caetano de Almeida Gomes –, convida os visitantes a abraçar a árvore de origem africana. Uma placa de bronze datada de 1927, talvez para a comemoração de seus 20 anos, adverte: “Sorte por longo prazo a quem me beija e respeita, mas sete anos de atraso a cada maldade a mim feita”.

Mesmo se o tronco colossal da Adansonia digitata foi vítima da ignorância de um ou dois incautos, o maior desafio de Maria Gorda ocorreu em 2010, quando quase morreu envenenada por um vazamento na rede de esgotos. Os que ajudaram a árvore a sobreviver – hoje ela está frondosa e suas folhas saudáveis – acreditam que a boa ação trouxe sorte. O baobá de Paquetá é tombado, desde 1967, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e não pode ser derrubado.

Além das paisagens bucólicas e ruas plácidas e arborizadas, a maior riqueza de Paquetá está em sua gente. Todos os 4.500 moradores possuem um carinho especial pela ilha e uma vontade inabalável de recuperar a Pérola da Guanabara. Markinho Bathera é um desses paquetaenses convictos. Ecotaxista e baterista do grupo Banda 40 Graus, ele cuida, como se fosse sua, da Praia da Imbuca, onde tem seu quiosque Imbuca 40º.

E o exército de defensores de Paquetá tende a aumentar. A contínua e crescente desilusão com o Rio de Janeiro faz com que a ilha apareça como uma opção saudável na busca de uma melhor qualidade de vida para o carioca. Músicos, artistas plásticos, chefs ou agitadores culturais estão de olho em Paquetá para desenvolver novas atividades. Um bom exemplo é o Circuito das Casas Amigas da Cultura – mas esse é assunto da crônica da próxima semana.

Fonte: http://epoca.globo.com/sociedade/viajologia/noticia/2017/01/bairro-carioca-entao-esquecido-paqueta-renasce-para-um-turismo-cultural.html

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