Ilha de Paquetá PQT - Ponto de Mídia Livre

Se esta rua fosse minha, eu mandava… Paquetá!

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Sabe aquele sonho de poder ir às ruas sem se preocupar com carros, ônibus e caminhões, a fim de pedalar tranquilo, indo e vindo para qualquer parte de bicicleta? Pois é. Sonho seria se mais localidades tivessem as mesmas características da Ilha de Paquetá – RJ. Para todos os lados que se lance o olhar, lá está ela, a bike! A Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro guarda, ainda que pouco difundido além-fronteiras, este pedacinho de terra onde andar de bicicleta é o Logus incontestável. Um convite a repensar sobre como seria aquela cidade quase ideal que tantos sonham e que, com algum esforço, poderia se tornar possível.

  Revista Bicicleta por Therbio Felipe

Localizado na Baía da Guanabara e acessado em 15 km de travessia marítima nas barcas desde a Praça XV, no Rio, este bairro que é uma ilha e ilha que é um bairro guarda memórias da história do Brasil e da própria colonização da capital. Seja através dos relatos da descoberta do local por André Thevet, da expedição de Nicolas Durand de Villegaignon, em 1555, antes mesmo da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, por Estácio de Sá, em 1565, ou ainda pela forte presença da Família Real e do Príncipe Regente por alguns anos, além do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva que lá residiu.

Mas, algumas pessoas irão fazer uma associação entre a Ilha de Paquetá e a joia da literatura brasileira, o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Cheia de encantos, Paquetá foi o cenário escolhido pelo autor para o desenrolar da trama que conta sobre a descoberta do amor impossível e da mulher idealizada, a lenda tamoia de Ahí, a jovial e doce Carolina, além dos hábitos da juventude burguesa carioca à época de sua publicação, em 1844.

Mais recentemente, a ilha foi cenário usado como locação para a novela Chocolate com Pimenta e o seriado Subúrbia. 

E quem chega a Paquetá desavisado irá se deparar com um cenário onde a bicicleta impera, absoluta, por uma questão até certo ponto irônica: não há como chegar usando o automóvel e nem mesmo motocicletas são permitidas. 

As ruas têm cobertura de saibro, o que em nada desmerece o contexto repleto de flamboyants, jacarandás e casarios de valor histórico e cultural, tombados, preservados e tutelados, pertencentes à APAC - Área de Proteção do Ambiente Cultural, que se trata de um instrumento urbanístico da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. 

Casa onde foi gravada a novela A Moreninha

O órgão responsável pela gestão deste patrimônio é a Secretaria Municipal das Culturas, através do DGPC - Departamento Geral de Patrimônio Cultural.

Estivemos lá, no final de 2015, acompanhando dois personagens da mobilidade em bicicleta: Ricardo Martins Batista, do livro Roda América e que, hoje, está rodando o mundo em uma bicicleta de bambu feita por outro amigo, o artista Klaus Volkmann, e o saudoso Glauston Pinheiro (In Memorian), referência dentro e fora do país. 

três pessoas passeando de bicicleta

Desde a chegada no porto, caminhar e pedalar são as condições aceitas e assumidas tanto pela população quanto pelos visitantes. São pouco mais de 8 km de perímetro, percorridos sem pressa e com enorme facilidade. 

A cada nova curva é fácil encontrar ruas ladeadas por árvores frondosas, gente simpática e cordial, além de dezenas de pequenas enseadas com bancos de praça e locais para reverenciar o tempo. Não é incomum perceber moradores e visitantes envolvidos em plena conversa fagueira nos recônditos da ilha. 

Pessoas andando de bicicleta norma e em um triciclo em Paquetá

É fato que para conhecer Paquetá em bicicleta leva-se poucas horas, mas para que a pressa, não é mesmo?

O comércio ativo não se importa se as bikes estão estacionadas à calçada e o moço da farmácia, certamente, irá levar seu pedido daquele analgésico em poucos minutos, claro, usando a bicicleta. 

Se quiser parar um pouquinho e degustar uma gelada, sem problema, irá encontrar uma série de pequenos botecos em várias praias. Dê uma escapada até o Parque Darke de Matos e suba ao Mirante do Morro da Santa Cruz, pois a vista é algo.

um casal e uma criança em um triciclo amarelo, próximo a ilha dos lobos

Se não quiser ou não puder pedalar, tome um eletrotáxi, um táxi com bike elétrica e com cobertura protetora para o sol, e peça à moça ou moço para ir até a Casa de Artes Paquetá, ali na Praça de São Roque, frente ao mar. Há uma extensa programação de atividades culturais didáticas à escolha.

Único dado negativo, porque nem tudo são flores: a poluição da Baía da Guanabara, a passagem de frotas de navios cargueiros, a falta de saneamento nas cidades vizinhas no continente, enfim, são uma ameaça constante e um risco iminente de degradação deste lugar tão especial, impactando seus cidadãos e sua cultura. Faz-se notar, de vez em quando, um odor bastante forte dependendo do vento e da localização em que se encontrar na ilha. Uma lástima que não pode ser deixada sem consideração.

Barcos encostados na Praia de São Roque com a Serra de Teresópolis ao fundo

Outro aspecto, desta vez positivo, que grita aos olhos é que os moleques estão às ruas, brincando nas praças e nos espaços da orla e, invariavelmente, suas bicicletas estão junto. Que experiência sensacional de aprender a viver sem a presença de veículos automotores estas crianças estão tendo! Que sonho!

Bicicleta encostada no muro, próximo ao portão da casa

Aliás, todas as idades se veem contempladas pelo uso diuturno das bicicletas, triciclos e quadriciclos (ambos sem motor). A ilha conta ainda com uma loja de bicicletas com um excelente mecânico, e não é difícil encontrar relíquias por lá, tanto que o querido amigo Marcos José Cavalcanti organizou meses atrás o I Encontro de Bicicletas Antigas de Paquetá. Um sucesso!

Duas pessoas andando de bicicleta pela rua

Então, voltando ao nosso sonho inicial. Será que ele está, em verdade, tão distante? Que experiências tem Paquetá para dar ao Brasil? 

Enfim, quem vai a Paquetá se sente tocado por diferentes e fartos motivos. É uma escolha bastante interessante para um passeio ou uma temporada de descanso. Ainda bem que este foi o lugar escolhido para que eu e Ricardo fizéssemos a nossa última pedalada com Glauston. Um lugar de sonho. Ainda bem.

Fonte: https://revistabicicleta.com.br/bicicleta.php?se_esta_rua_fosse_minha_eu_mandava%E2%80%A6_paqueta&id=4623499

Foto de capa - Therbio Felipe

Imagens anexadas na notícia:

Se esta rua fosse minha, eu mandava… Paquetá!

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