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Moradores de Paquetá abrem suas casas e apresentam atividades gastronômicas e culturais

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A dedicação às artes, o carinho pela ilha e a busca por uma melhor qualidade de vida são os motivos principais do movimento que converte residências em hospedarias, bistrôs e palcos

HAROLDO CASTRO (TEXTO E FOTOS) | DO RIO DE JANEIRO
07/02/2017 - 08h01 - Atualizado 07/02/2017 10h24

Artistas plásticos, músicos, chefs e agitadores culturais que vieram morar em Paquetá nos últimos anos estão criando um movimento inovador na cidade. Esses moradores perceberam que deveriam fazer de sua casa o palco ou a vitrine de suas atividades profissionais. Como uma ideia que paira no ar e é absorvida, ao mesmo tempo, por várias mentes criativas, essa vontade de abrir sua própria residência aos amigos e ao público está tomando forma, ampliando e dando certo.

Esses empreendedores possuem vários elementos em comum. O principal é ter um carinho especial por Paquetá. Alguns são filhos da ilha, outros a frequentam desde criança – mas também pode ser uma paixão súbita mais recente, de apenas um par de anos. Todos asseguram que querem cuidar da ilha e não pensam em voltar para o continente.

O segundo ponto em comum é considerar Paquetá como uma nova maneira de viver. Cansados da ansiedade e insegurança do Rio de Janeiro, onde viviam antes, todos são unânimes em dizer que aportaram na ilha para buscar uma melhor qualidade de vida. E garantem que encontraram.

Finalmente, outro elemento que abrange essa confraria informal é a mente criativa, o espírito livre e o amor pelas artes. Todos estão envolvidos com alguma atividade artística. Alguns adoram cozinhar, outros sabem assar um pão integral, mas todos procuram uma alimentação saudável. São pessoas maduras, conscientes e sabem que o sucesso de seus empreendimentos depende de seus esforços.

--- Casinha Amarela---

Márcia Kevorkian e sua irmã Andréa frequentam Paquetá desde bebês, pois seu pai possuía uma casa de veraneio. Em 2010, elas trocaram o Rio de Janeiro pela Casinha Amarela, na área de São Roque, padroeiro da ilha. O local é o ponto final do desfile do bloco carnavalesco Pérola da Guanabara. Em 2011, quando o bloco ainda era de poucas dezenas de foliões, as irmãs Kevorkian decidiram dar apoio logístico aos dirigentes do grupo, pois “não havia nenhum lugar para comer, descansar ou fazer xixi”.

Hoje, a Casinha Amarela continua sendo o quartel-general do Pérola da Guanabara durante o Carnaval e a Festa Junina. Mas também está aberta nos outros 50 fins de semana do ano para visitantes menos festeiros. “Oferecemos apenas dois quartos, pois nosso foco é gastronômico”, afirma Márcia. “Estamos no extremo norte da ilha, queremos que as pessoas venham apreciar o silêncio e observar as garças voando.”

--- Casa de Artes Paquetá ---

A alguns metros da Casinha Amarela, mora o irmão José Kevorkian. Seu casarão, adquirido em 1999, fazia parte da chácara de Ormy Toledo, uma empreendedora que chegou a hospedar grandes nomes da música, como Pixinguinha. José e sua mulher, Josiane Kevorkian, pianista, inspirados pela história do local, começaram a promover recitais, palestras e saraus. Mas faltou espaço e tiveram de deixar o casarão, indo morar em uma casa vizinha.

Em 2001, o casarão converteu-se na Casa de Artes Paquetá, hoje o mais importante centro cultural da ilha, com projetos sólidos e bem patrocinados como Bem Me Quer Paquetá e Orquestra Jovem Paquetá.

--- Café e Bandolim ---

Instalado em uma bela casa de paredes ocre em frente à mais famosa praia de Paquetá, a Moreninha, Pedro Amorim está preparando o nono disco de sua carreira. Há nove anos, o compositor e bandolinista trocou seu bairro natal, Grajaú, por Paquetá. Ele e sua esposa, a jornalista Conceição Campos, tomaram a decisão em apenas um mês, cansados de ver o Rio se degradando e a tensão nas ruas aumentando. Levaram seus dois meninos, hoje adolescentes.

Pedro e Conceição começarão a abrir as portas de sua casa em março próximo, em parceria com a produtora cultural Eveli Ficher. Nas quatro segundas-feiras do mês, Pedro Amorim dará uma masterclass para músicos interessados em aprimorar a técnica e o uso do bandolim. Já aos domingos, das 16 horas às 18h30, será a vez de Café e Bandolim, uma atividade aberta ao público. Além da oportunidade de conviver com o músico em sua casa, ouvir seu bandolim ao vivo e conhecer melhor sua trajetória, o visitante poderá ainda degustar um café e um pão de alecrim quentinho preparado por Conceição.

--- Solar dos Limoeiros ---

Eveli Ficher abriu seu Solar dos Limoeiros para hóspedes há um mês. “Ofereço apenas duas suítes. Não chega a ser uma pousada, é um Cama & Café, um Bed & Breakfast”, afirma. Seu forte é o café da manhã, repleto de opções veganas e orgânicas. “No meu quintal, tenho dez árvores frutíferas. Agora é a safra do maracujá”, diz ela, orgulhosa de seu processo de compostagem. Ela também ajudou a criar uma rede de compra de alimentos orgânicos que são distribuídos a uma dúzia de famílias paquetaenses.

Apesar da constante manutenção do Solar dos Limoeiros – a casa tem mais de 80 anos de idade –, Eveli ainda encontra tempo para criar parcerias criativas com seus amigos que se autodefinem como Casas Amigas da Cultura. Além de produzir os oito eventos com Pedro Amorim em março, Eveli também acaba de lançar o Solar Gourmet, com o chef Vander Borges. A ideia é simples: um casal passa o fim de semana no Solar dos Limoeiros e convida no domingo dez parentes e amigos próximos para um almoço de celebração. “O chef Borges e eu preparamos um cardápio gourmet para a ocasião. Pode ser noivado, aniversário ou qualquer pretexto.”

Vander Borges, um designer que virou chef, também possui uma casa com portas abertas, o Espaço Sol. Quando chegaram à ilha, ele e a mulher, Valéria Borges, sentiram falta de atividades relacionadas com as artes visuais. Inspirados por um evento que realizaram na Casa de Artes, decidiram, há um ano e meio, abrir o ateliê ao público e montar um bistrô no jardim.

“Recebemos as pessoas em nossa casa como se fossem amigos íntimos”, afirma Vander, enfatizando que tanto as comidas, as bebidas e os clientes são tratados com muito carinho e cuidado. “Queremos sempre mimar nossos convidados”, diz a companheira Valéria.

--- Casa Flor ---

Outra família que se esmera para receber bem é a de Marcelo Ficher, com a iniciativa Casa Flor. Em 2013, o casal vendeu, na alta, um bom apartamento na Gloria e comprou uma belíssima casa em Paquetá, ilha que Taís Mendes frequentava desde os 8 anos de idade. Apesar de trabalhar na redação de um jornal carioca, ela topou o desafio de viajar de barca todos os dias. Entretanto, convencer a filha Julia a cruzar a baía foi mais difícil: a jovem, então com 20 anos, só faria a mudança se ganhasse um cachorrinho e se a casa nova tivesse uma suíte só para ela. Acordo selado e a piscina veio como brinde.

Quando em dezembro de 2015, depois de 23 anos de trabalho, Taís foi dispensada pelo jornal carioca, ela até sentiu um alívio: agora poderia se dedicar de corpo e alma ao projeto familiar. E foi o que fez. “Resolvemos abrir nossa casa para eventos culturais, como poesia e aula de canto, e gastronômicos”, diz Taís. Hoje, a marca registrada da Casa Flor, que só abre nos fins de semana, é uma deliciosa feijoada no primeiro sábado do mês e um forró no segundo sábado.

--- Hospedaria Santa Bárbara ---

O arquiteto paulistano Ricardo Cintra veio para Paquetá em 2012 para supervisionar uma obra. Quando a construção terminou, veio a crise. “Aí me perguntei: volto para São Paulo ou tento me reinventar por aqui mesmo?”, conta Ricardo. Como muitos paulistanos possuem o sonho clichê de ser dono de uma pousada à beira do mar, Ricardo resolveu encarar o desafio. Mas, antes, precisava vender um imóvel. Para isso fez uma promessa a Santa Bárbara, do qual é devoto. Deu certo e seu sócio, o tijucano Leandro Ribas, apesar de ser evangélico, aceitou que a nova hospedaria levasse o nome da santa.

Com apenas quatro quartos, a Hospedaria Santa Bárbara tem como proposta que o visitante se sinta em casa e que todos fiquem à vontade. “Com o aparecimento do Airbnb, o conceito de hotelaria está mudando rapidamente”, afirma Ricardo. “Nossa hospedaria representa um bom exemplo da nova maneira de receber as pessoas em suas próprias casas.”

--- Casa de Noca ---

Se alguns dos moradores se dedicam mais às atividades artísticas e outros à hospedagem ou à gastronomia, Neusa Matos e Mauro Guerra criaram, na própria residência, um espaço dedicado a petiscos e bebidas, a Casa de Noca. “Não tínhamos em Paquetá bons lugares onde sentar e beber”, afirma Neusa. “Por isso, resolvemos abrir nossa casa e nosso quintal aos amigos e visitantes.”

A dupla, em apenas dois meses – o local foi aberto em dezembro de 2016 –, conseguiu transformar a Casa de Noca em um dos points da ilha. Como a cozinha é pequena, Neusa serve apenas petiscos, como uma deliciosa “caponata de berinjela” e o procurado “c.. de Creuza de azeitona.”

Mas a especialidade do casal vem de mais longe, de Minas Gerais: uma cachaça artesanal. Em Paquetá, Neusa e Mauro transformam a aguardente – ao agregar uma poção secreta de cravo e canela – em A Moreninha, uma bebida com cor mais bronzeada.

A cachaça de Neusa e Mauro leva o nome do título e da personagem principal do livro de Joaquim Manuel de Macedo publicado em 1844. A história relata a paixão entre um estudante de medicina do Rio de Janeiro e a Moreninha, uma paquetaense. A obra, considerada como o primeiro romance tipicamente brasileiro, expõe uma Paquetá bucólica que existia há mais de 170 anos.

E por que não recuperar essa imagem romântica tão cobiçada? É com esse espírito de cuidado, ternura e dedicação que os moradores das Casas Amigas da Cultura abrem, generosamente, as portas de suas residências para revelar uma Paquetá que merece ser degustada.

O autor hospedou-se em Paquetá no Solar dos Limoeiros, convidado por Eveli Ficher

Serviço - calendário dos próximos eventos:

Forró mensal na Casa Flor: 11 de fevereiro
Pérola da Guanabara em Paquetá: 18 de fevereiro
Feijoada na Casa Flor: 4 de março
Café e Bandolim: 5, 12, 19 e 26 de março (inscrições prévias)
Masterclass com Pedro Amorim: 6, 13, 20 e 27 de março (inscrições prévias)
Serenata na Casa de Noca: 25 de março

Fonte: http://epoca.globo.com/sociedade/viajologia/noticia/2017/02/moradores-de-paqueta-abrem-suas-casas-e-apresentam-atividades-gastronomicas-e-culturais.html

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